Na terça-feira, 13 de agosto, aconteceu o Debates em Saúde 2019, com o tema Humanização do Cuidado e dos Cuidadores. O evento ocorreu no Auditório Professor Almir Fraga do Centro de Ciências da Saúde – CCS/UFRJ e foi marcado por uma manhã cheia de contribuições de profissionais e especialistas, que partilharam suas experiências e pontuaram a importância da humanização do cuidado e dos cuidadores.
A primeira palestra falou sobre o papel da música na humanização do cuidado e foi conduzida pelo médico e professor Eduardo Rocha, da UFRJ. Ele tratou da importância da humanização do atendimento com uma simulação e trouxe três convidados em um formato de talk show, que contribuíram falando sobre o papel da música na saúde de diferentes perspectivas: a enfermeira Manuela, que falou sobre a presença da música na sua formação na área de saúde, sobre a importância da música no cuidado com os pacientes e com os próprios profissionais de saúde, que muitas vezes se encontram em uma rotina que desgastante; a integrante da banda Blitz, sucesso década de 1980, e musicoterapeuta Márcia Bulcão, que falou do seu trabalho no Hospital Placi realizando musicoterapia de forma que abrange todos os funcionários do hospital e os pacientes, também partilhando sobre sua experiência trabalhando com música, a banda Blitz, e pontuando sobre a importância de detalhes, como o olhar, nas relações e no atendimento; por fim, tivemos a presença do músico e um dos fundadores do grupo Monobloco, Mario Moura, que trouxe contribuições sobre o papel da música na socialização, a sua experiência tocando, e finalizou a palestra com uma demonstração da sua prática musical.
Em seguida, a Dra. Kylza Estrella, geriatra, assumiu o Debates com a palestra “Humanização do Cuidado ao Idoso”, falando sobre o envelhecimento vertiginoso da população e como é preciso se atentar para os cuidados a essa parcela da população. Assim, é necessário pensar na saúde e no cuidado dos idosos sobre a perspectiva da autonomia e da independência do indivíduo que deseja esses aspectos da vida. Fala-se, assim, no cuidado resgatando a vida do idoso. O cuidado humanizado para essas pessoas passa pela questão da fragmentação do sistema de saúde, pois os serviços não são integrados e isso configura um problema para essa parcela da população. A doutora também pontuou aspectos que devemos ter atenção no cuidado ao idoso: o sono, a massagem e o toque aos indivíduos, a necessidade de entender quais as condições clínicas desses pacientes e suas mudanças, a polifarmácia, e o uso criterioso e de introdução lenta de antipsicóticos. Além disso tudo, é preciso lembrar da necessidade do apoio à família e o apoio na tomada de decisões desses membros que muitas vezes estão sofrendo com os aspectos do envelhecimento de seus entes queridos. Por fim, a Dra. Kylza ressaltou que a condição da vulnerabilidade é, também, uma condição de coragem do indivíduo.
Na sequência, a Dra. Marilia Vasconcellos, coordenadora da área de qualidade do Instituto Nacional de Cardiologia – INC, partilhou sua experiência na instituição através da palestra “Implementação da Visita Estendida”. Em sua fala, ela tratou da implementação do projeto Todos pela Visita Estendida e sobre os fundamentos dessa prática. A doutora pontuou que a saúde está ligada ao bem-estar e é necessário perguntar “como eu posso fazer o paciente se sentir melhor?”. Além disso, trouxe os aspectos que são valorizados pelos pacientes, como: ser ouvido, a necessidade de ser tratado como pessoa, ser respeitado, etc. Na experiência do INC, eles buscam dar voz ao paciente e ouvir as necessidades que eles apontam, oferecendo um espaço para serem escutados. A Dra. Marilia também comentou sobre o modelo de visita padrão e todas as preocupações, dificuldades e resistências envolvidas na realidade dos pacientes e dos profissionais. Concluiu mostrando os efeitos positivos da implementação da visita estendida, como a diminuição do uso de um dos sedativos, e o impacto positivo da presença dos familiares
Já a Dra. Claudia Naylor, do INCA IV e doutoranda do CESS/COPPEAD, tratou da questão da humanização dos cuidados paliativos. Dentre as questões apontadas como importantes, a doutora destacou a relevância da ambientação e principalmente da atenção domiciliar. Além disso, tratou da questão da clínica ampliada, compreendendo as singularidades de cada paciente e como e onde serão feitos os cuidados a esse paciente que está em cuidados paliativos. Em concordância com o dito por outros palestrantes, ela ressaltou a importância de escutar os desejos do paciente, expondo que existe um desejo de “viver uma vida significativa”. Os pacientes têm interesse por serem assistidos por uma equipe que conheça suas necessidades, que conheça sua história, etc. Existe também outras necessidades, como: de profissionais receptivos e competentes; de estarem em um ambiente receptivo de cuidado, seja em casa ou no hospital; etc. Um importante detalhe trazido pela doutora é sobre a comunicação com os pacientes, que muitas vezes enfrentam dificuldade de escutarem o que os médicos dizem logo após receberem o diagnóstico de uma doença que os leva ao cuidado paliativo. A partir de artigos relevantes na área e de sua experiência no INCA IV, Claudia demonstrou todas essas questões e contribui com uma palestra emocionante.
Na sequência, a consultora e especialista em segurança do paciente e doutoranda do CESS/COPPEAD, Liliana Amaral, apresentou a palestra “Quem cuida do cuidador”, falando sobre uma perspectiva de gestores que lidam com cuidadores. Segundo ela, cuidar do cuidador tem que ser uma estratégia institucional, que engaje as lideranças, que seja contínua e para todos. Assim, o trabalhador é acolhido e pode se sentir melhor para cuidar e exercer sua função como profissional da saúde. Liliana aponta que é muito importante que esse profissional passe por um treinamento inicial, no qual há um alinhamento das suas expectativas pessoais com a instituição. É necessário, portanto, preparação e instrução sobre o cenário que o cuidador vai encontrar no trabalho, bem como treinamento sobre protocolos e indicação de onde o profissional deve recorrer em ocorrência de um evento adverso. Liliana também falou sobre a importância de um ambiente favorável e seguro e mostrou as indicações da OMS sobre as cinco chaves pra um ambiente de trabalho saudável. Ademais, foi ressaltado que os gestores da saúde precisam ter o plano de cuidado do paciente e também o plano de cuidado do profissional. Logo, é preciso oferecer cuidados com a saúde do cuidador, que envolvam: prevenção, identificação e cuidado com doenças crônicas, levantamento dos possíveis pontos de violência que ele pode estar exposto e a minimização de riscos que ele possa sofrer. Outro ponto crítico está relacionado ao conforto do profissional, que precisa ter acesso a descanso, água, alimentação, espaço para guardar os pertences, etc. Buscando apontar novos passos, Liliana contribuiu mostrando onde precisamos avançar nesse tópico, destacando a necessidade de: desenvolvimento de regras institucionais; capacitação e desenvolvimento dos profissionais; comunicação clara e efetiva; uma conduta ética; cultura justa e de melhoria contínua; existência de um atendimento isento; e apoio à segunda vítima. É ressaltado que existem muitos benefícios em se pensar na saúde e no cuidado dos profissionais cuidadores e, para exemplificar, Liliana traz o caso do Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, que tem um programa de bem estar pra os colaboradores da instituição.
O presidente da Adote e professor do CEFET/RJ, Rafael Paim, trouxe a questão da humanização do cuidado da perspectiva de pacientes e familiares. Ele começou mostrando a notícia de que o Rio de Janeiro bateu seu recorde de doação de órgãos nesse mês de agosto, e como esse resultado está relacionado com o treinamentos que os profissionais recebem para conversar com as famílias sobre a importância da doação de órgãos. Segundo ele, envolver e humanizar é dar direito de decisão e engajamento, e isso pressupõe uma educação por parte do paciente e seus familiares que, caso não tenham o conhecimento na área, precisam ser instruídos de forma clara e que possibilite a compreensão mínima dos cuidados que ele receberá ou que seu familiar receberá. Rafael partilhou sua experiência e que, por essa vivência, percebeu as necessidades de melhoria na fluidez dos processos de cuidado, principalmente em doação-transplante de órgãos. Em sua palestra, ele demonstrou as razões da importância de engajar o paciente e os níveis de engajamento que existem. Também falou sobre a necessidade de um design conjunto e que passe pela experiência do paciente. Assim, é preciso desenhar a jornada do paciente e humanizar o cuidado: entender o que se fala, o que se vê, o que se sente, etc. As equipes precisam promover melhorias e os pacientes e a família devem ser vistos como parte da equipe. Além disso, ele demonstrou a necessidade de diminuição das assimetrias de compreensão, promovendo uma transformação no processo de engajamento dos pacientes e familiares.
O Debates em Saúde finalizou com uma mesa redonda com os palestrantes, nos quais eles responderam perguntas dos participantes. No final, foi passado um breve e emocionante vídeo demonstrando as diferentes realidades que se cruzam em um ambiente hospitalar e as experiências humanas que interagem com questões da saúde.